Duma certa forma, ainda penso em como seria se não aparecesse ele na minha vida, se não fosse ele a tirar-me do abismo em que me estava a meter, penso e repenso nas vezes que discuto com ele e odeio pensar que ele sofre por mim sem eu conseguir ver isso, odeio pensar só em mim e só no que eu sinto. Odeio olhar à minha volta e ver sempre as mesmas imagens a passar a preto e branco e sentir que só a musica que as acompanha é que muda, odeio ver isso porque sei que o vejo é só o que quero ver, porque na verdade a imagem não é a mesma, a música muito menos. Eu tenho noção de que as minhas atitudes nem sempre são boas, sei que muitas das vezes não meço as palavras e toco nas palavras do pior jeito que pode haver. Mesmo que não pareça eu também sofro com o que faço, e tenho medo de chegar uma certa altura em que ele, com o mesmo jeito que me agarra, que me segura tao confortavelmente, me possa simplesmente deixar cair. Tenho medo talvez porque nunca cheguei a aprender a confiar, mas quando olho para ele, vejo-me reflectida nos olhos dele, reflectida de tal maneira como se tivesse a maior importância na vida dele, e é como se a imagem que imagino na minha cabeça passasse de imediato para a dele. Ele sente que eu tenho medo, mas não entende de onde vem o medo, o meu medo multiplica-se e ultrapassa a barreira que temos entre os dois. O meu medo passa a ser o medo dele, ambos temos medo, mas eu entendo o dele e ele não entende o meu. Ele pinta o quadro que eu desenhei com um suspiro, pinta de uma cor viva de modo a transformar o medo que eu transmito em confiança, em paz e tranquilidade na minha alma, ele continua a pintar o quadro com as mãos, fazendo gestos de caminho no ar, fazendo a continuação da história que eu tanto temo que acabe. No fim, encosta os lábios na minha cabeça sussurra-me ao ouvido, “não há fim que nos separe”.
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